quarta-feira, 28 de março de 2012

1EM: Fábula e apólogo/1

O lobo e o cordeiro


Versão de Esopo

Estava bebendo um Lobo encarniçado em um ribeiro de água, e pela parte de baixo chegou um Cordeiro também a beber. Olhou o Lobo de mau rosto, e disse, reganhando os dentes:

— Por que tiveste tanta ousadia de me turvar a água onde estou bebendo?
Respondeu o Cordeiro com humildade:
— A água corre para mim, portanto não posso eu turvá-la.
Torna o Lobo mais colérico a dizer:
— Por isso me hás de praguejar? Seis meses haverá que me fez outro tanto teu pai.
Respondeu o Cordeiro:
— Nesse tempo, senhor, ainda eu não era nascido, nem tenho culpa.
— Sim tens (replicou o Lobo) que todo o pasto de meu campo estragaste.
— Mal pode ser isso, disse o Cordeiro, porque ainda não tenho dentes.
O Lobo, sem mais razões, saltou sobre ele e logo o degolou, e o comeu.

(extraído de: Fábulas de Esopo. Tradução de Manuel Mendes da Vidigueira. 1603. Disponível em: <
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/infantil/esopo2.htm>. Acesso em: 28 mar. 2012)


Versão de La Fontaine/Ferreira Gullar

Na água limpa de um regato,
matava a sede um cordeiro,
quando, saindo do mato,
veio um lobo carniceiro.

Tinha a barriga vazia,
não comera o dia inteiro.
— Como tu ousas sujar
a água que estou bebendo?
— rosnou o Lobo a antegozar
o almoço. — Fica sabendo
que caro vais me pagar!

— Senhor — falou o Cordeiro —
encareço à Vossa Alteza
que me desculpeis mas acho
que vos enganais: bebendo,
quase dez braças abaixo
de vós, nesta correnteza,
não posso sujar-vos a água.

— Não importa. Guardo mágoa
de ti, que ano passado,
me destrataste, fingido!
— Mas eu nem tinha nascido.
— Pois então foi teu irmão.
— Não tenho irmão, Excelência.
— Chega de argumentação.
Estou perdendo a paciência!
— Não vos zangueis, desculpai!
— Não foi teu irmão? Foi o teu pai
ou senão foi teu avô.
Disse o Lobo carniceiro.
E ao Cordeiro devorou.

Onde a lei não existe, ao que parece,
a razão do mais forte prevalece.


(extraído de: La Fontaine. Fábulas. Tradução e adaptação de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Revan, 1997)

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