Texto dissertativo
tese argumentos principais conclusão
Se a Polícia Civil é muito sobrecarregada ou a segurança não lhe diz respeito no local, se o gestor do aeroporto também lava as mãos em relação à segurança dos passageiros dentro do aeroporto, isso não significa que tenhamos de aceitar a tese de que aqueles que carreiam o lucro e o sustento de todos (polícia, gestor do aeroporto e empresas aéreas), seja na condição de contribuintes ou consumidores, devam ser relegados ao abandono e à cínica indiferença — ou ao desavergonhado jogo de empurra-empurra.
Se a polícia no local tem função burocrática ou de faz de conta, o gestor do aeroporto e as empresas aéreas têm a obrigação, sim, de zelar pela segurança dos passageiros, assim como outros estabelecimentos (por exemplo, shopping center) já têm sido condenados judicialmente a reparar danos causados aos consumidores que estavam no interior dos espaços onde a prestação de serviço é oferecida.
Enfim, os grandes espaços comerciais (shoppings, hipermercados e futuros aeroportos privatizados ou sob concessão) ou espaços públicos de prestação de serviço devem responder pelas segurança dos usuários, que são a razão de ser dos pagantes da conta.
Portanto, danos materiais comprovados e danos morais podem ser cobrados de aeroportos e empresas aéreas.
(extraído de: RIOS, Josué. Quem é o responsável pela segurança? Assaltos em Congonhas. O Estado de S. Paulo, 15 out. 2011. Caderno Metrópole, p. C2. [Análise de caso apresentado por carta do leitor na seção São Paulo Reclama.])
Texto narrativo-descritivo
narração descrição
A rua era estreita, como todas as ruas do bairro velho de Sables-d'Olonne, com calçamento desigual e calçadas das quais era preciso descer, cada vez que se cruzava com outro transeunte. A porta da esquina era uma porta magnífica, com dois batentes, de um verde profundo, suntuoso, de reflexos perfeitos e duas aldrabas de cobre bem polido, como só se veem nas casas dos advogados de província, ou nos conventos.
Diante dela, estacionavam dois carros compridos e reluzentes, que davam a mesma impressão de limpeza e conforto. Maigret conhecia-os, ambos pertenciam a cirurgiões.
"Eu também poderia ter sido cirurgião", pensou ele.
E ter um carro como aqueles. Provavelmente não seria cirurgião, mas era fato que podia ter sido médico, que começara a estudar medicina, que às vezes sentia saudades do que não chegara a ser. Se seu pai não tivesse morrido quando lhe faltavam três anos para terminar o curso...
Antes de colocar o pé na soleira da porta, tirou o relógio do bolso e viu que eram três horas. Nesse exato momento, o sino um pouco estridente da capela deu três badaladas, seguido do bater mais grave do da igreja de Nossa Senhora, repercutindo sobre os telhados da cidadezinha.
Maigret suspirou e apertou a campainha. Suspirou porque era ridículo tirar o relógio do bolso todos os dias à mesma hora. Suspirou porque não era menos ridículo chegar às três horas em ponto, como se o destino do mundo dependesse disso. Suspirou porque, assim que a porta se abrisse, automaticamente, graças a um mecanismo bem lubrificado, sem ruído, sem atrito, ele iria, como nos dias anteriores, transformar-se num outro homem.
Nem sequer um homem. Seus ombros continuavam sendo os ombros maciços do Comissário Maigret, sua silhueta não se mostrava menos pesada.
Mas, assim que entrava no amplo corredor, tinha a impressão de voltar a ser criança, o jovem Maigret que, outrora, na sua aldeia do Allier, andava nas pontas dos pés e continha a respiração, quando, mal o dia nascia, as mãos cheia de frieiras e o nariz vermelho, penetrava na sacristia para vestir o traje de menino do coro.
A atmosfera, aqui, era parecida. Um doce cheiro de farmácia substituía o perfume do incenso, mas não era o cheiro característico dos hospitais, e sim um odor mais complexo, mais rino, mais requintado. Caminhava-se sobre um linóleo que parecia acolchoado, como ele nunca vira em lugar nenhum. Da mesma forma, as paredes, pintadas a óleo, eram mais lisas e de um branco mais imaculado do que em qualquer outro lugar. E havia também aquela umidade do ar, aquela pureza de silêncio que só é possível encontrar num convento.
(extraído de: SIMENON, Georges. As férias de Maigret: um caso do comissário Maigret. Tradução de Vera Neves Pedroso. 3. impr. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. cap. 1, p. 5-6.)
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